Em um mercado cava vez mais competitivo, investir em programas de qualidade de vida e reduzir índices de absenteísmo tem se tornado estratégia das empresas
Investir em programas de qualidade de vida e adotar políticas de prevenção a doenças crônicas reduz significativamente o índice de absenteísmo e sinistralidade de uma empresa. No entanto, mesmo com tantos exemplos no mercado, nem todas as companhias conseguem aplicar corretamente estes programas, o que as leva a resultados insatisfatórios ou a uma baixa relação custo benefício.
Dados do Ministério da Previdência Social do Brasil mostram que, em 2008, o INSS desembolsou cerca de R$11,6 bilhões para o pagamento de benefícios referentes a acidentes e doenças do trabalho e aposentadorias por invalidez. Além dos custos elevados para o governo, as empresas também pagam a conta, tendo que substituir esses profissionais e onerar mais ainda sua folha de pagamento.
Para combater os altos índices de absenteísmo, a Usiminas criou, há cerca de dois anos, um programa de gestão e promoção de saúde e qualidade de vida para seus 80 mil funcionários.
A implementação das estratégias de promoção da saúde e prevenção de doenças da Usiminas, promovida pela Fundação São Francisco Xavier (FSFX), entidade filantrópica de direito privado fundada pela mineradora, é uma das iniciativas para melhorar a qualidade de saúde dos colaboradores da empresa. O programa foi estruturado a partir de um levantamento do perfil epidemiológico dos colaboradores, apontando as doenças mais comuns entre eles, e os hábitos que elevam o risco dos problemas de saúde.
A partir desse diagnóstico, a FSFX criou o “Atitude rima com Saúde”. O programa está dividido em 12 projetos que abordam diversos temas, como o projeto “Gerar”, destinado às gestantes, o “Inspirar”, voltado ao combate ao tabagismo e o “Respirar”, com o objetivo de reduzir os índices de doenças respiratórias infantis entre outros.
Esse serviço é prestado por meio da UsiSaúde, uma operadora de planos de saúde, que possui um núcleo de promoção formado por cerca de 20 profissionais responsáveis por todas as iniciativas que abrangem saúde e bem estar dos colaboradores da empresa, desde a elaboração de protocolos clínicos, até a avaliação de resultados. “Para obtermos resultados eficientes, acreditamos que estes programas precisam ser consistentes, com uma base técnica extremamente sólida, integrada por equipes multiprofissionais formadas por médicos, enfermeiros e psicólogos muito bem preparados”, completa o diretor executivo da FSFX, Luís Marcio Araújo Ramos.
Segundo Ramos, é vital para uma empresa que tenha a intenção de implantar um programa de qualidade de vida e prevenção traçar um perfil epidemiológico de seus trabalhadores, para que se possa elaborar um programa adequado para cada população identificada na companhia. “Outro ponto importante a ser considerado é que esse programa deve estar alinhado à estratégia da empresa e tenha o reconhecimento da alta liderança e sua participação como forma de incentivo”.
Atualmente, a fundação investe cerca de R$60 per capta na Usiminas, o que significa um investimento de aproximadamente R$6 milhões ao ano, abrangendo os 12 projetos que pretendem reduzir o índice de absenteísmo, melhorar o ambiente corporativo e ter impacto direto na segurança do trabalho.
Ramos afirma que um dos maiores desafios dos programas de promoção à saúde é a identificação dos resultados conquistados. “Para os projetos aplicados na Usiminas, temos uma série de indicadores que monitoram a eficiência desses programas. Como implementamos isso há cerca de dois anos, não temos ainda um resultado fechado do Retorno sobre inventimento (ROI). Nos preocupamos nesse primeiro instante em consolidar e estruturar os programas”.
No primeiro ano, as iniciativas de prevenção da Usiminas tiveram uma adesão de 4,5 mil funcionários. “Já conseguimos colher os primeiros frutos desse projeto. Tivemos uma redução no índice de tabagistas e cortamos pela metade o índice de internação pediátrica por doenças respiratórias no Hospital Márcio Cunha, pertencente à fundação”.
Ausência nos ares
Com 30 mil funcionários, sendo 20 mil em terra e cerca de 10 mil embarcados em aeronaves, a TAM Linhas Aéreas estabeleceu uma série de programas para reduzir o absenteísmo entre os aeronautas. “Entendemos que hoje o absenteísmo é um grande problema, não só para nós, mas para qualquer empresa de aviação no mundo inteiro”, afirma o gerente de saúde, segurança do trabalho e meio ambiente da TAM linhas aéreas, Marco Antonio Cantero.
De acordo com ele, o estilo de vida das equipes que trabalham nas aeronaves é diferente de qualquer outro, pois são times de alta performance, em que não são toleráveis erros, assim como em outros setores, como saúde e petroquímico, exemplifica. “Portanto, ter pessoas doentes ou desmotivadas é muito perigoso para o negócio da companhia”.
Atualmente, dos 10 mil aeronautas que atuam na TAM, cerca de 550 estão afastados por motivos de saúde. Tendo em vista esse número de afastamentos, que envolve desde a licença maternidade, que atinge cerca de 49 % dos profissionais afastados, até licenças por problemas psiquiátricos, que gira em torno de 19%, a preocupação com a segurança do trabalho e da própria sustentabilidade do negócio motivou a companhia a criar, há alguns anos, um comitê de gestão do absenteísmo dos aeronautas.
“Na área de saúde, segurança do trabalho e meio ambiente contamos com 140 profissionais, responsáveis por todos os programas de saúde que envolvem os 30 mil colaboradores da companhia, distribuídos por todo o mundo”, explica Cantero ao falar sobre a estrutura de sua área.
A equipe é formada por cerca de 70 profissionais destinados a área de engenharia da segurança do trabalho, 20 profissionais de saúde divididos entre médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e psicólogas que são responsáveis pelos projetos de promoção de saúde, qualidade de vida de todos os colaboradores.
Cantero diz que para atingir um resultado eficiente e com impacto direto na saúde dos funcionários, os programas de promoção à saúde são desenvolvidos de acordo com o perfil epidemiológico da população de cada região onde a empresa atua.
Na área de qualidade de vida, os projetos podem variar de um clube de corrida, que estimula a prática do exercício físico e abandono do sedentarismo até o incentivo à prática esportiva da preferência de cada funcionário. “O que importa não é a prática em si, e sim o conceito que está por trás do esporte, que envolve disciplina e educação nutricional desse esportista, por exemplo. Se as pessoas estiverem saudáveis, não se machucarem e estiverem com a saúde preservada, elas, automaticamente, faltarão menos ao trabalho, estarão mais motivadas e valorizarão mais a empresa”, ressalta Cantero.
Em 2011, a TAM investiu cerca de R$13 milhões em programas de saúde e prevenção, qualidade de vida e equipamentos de proteção individual (EPI). “Na verdade, se comparado aos resultados, este investimento é muito menor do que o retorno que temos com a redução no absenteísmo e Seguro de Acidente do Trabalho (SAT)”.
Por meio de projetos de segurança e parcerias, a TAM estima economizar cerca de R$3,5 milhões apenas com o SAT e outros R$7 milhões com a redução do absenteísmo. “Em absenteísmo, salários extras e SAT, vamos economizar cerca de R$10 milhões, sem contar com gastos intangíveis como turnover e headcount (tamanho das equipes)”, completa Cantero. Os cases da TAM e da Usiminas foram apresentados durante o evento “Gestão Estratégica da Saúde Corporativa”, realizado pelo IQPC entre 7 e 9 de fevereiro em São Paulo (SP)
Por Guilherme Batimarchi para a revista FH (Saude Web)