Saúde no trabalho
Convencido de que o argumento financeiro é o mais eficaz para convencer gestores sobre a necessidade de investir em programas de bem-estar nas empresas, o economista norte-americano Sean Nicholson e um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos se esforçam para transformar em cifras a relação entre saúde e produtividade. Em uma dessas pesquisas, chegaram à conclusão de que cada US$ 1 investido na saúde da equipe gera um retorno de US$ 6 em produtividade para a empresa. Porém, a longo prazo.
– Em países em desenvolvimento econômico, como o Brasil, investimentos sérios nessa área serão grandes diferenciais para a retenção de talentos, pois os trabalhadores têm muitas opções – argumenta Nicholson.
No entanto, para o diretor da Upstate Health Research Network e professor da Cornell University, ainda é preciso gerar mais dados convincentes sobre os ganhos efetivos para a empresa. Em busca de debatedores para o painel de Nicholson no 12º Congresso de Stress da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), realizado semana passada, em Porto Alegre, a presidente da Isma-BR, Ana Maria Rossi, comprovou a escassez de dados.
– Não é que as empresas não invistam, elas até realizam programas, mas ainda não atentaram para calcular o retorno desse investimento para o negócio – explica Ana Maria.
Para o coordenador executivo do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP), Luiz Ildebrando Pierry, essa preocupação deve estar presente na definição de metas para acompanhar o desempenho de programas desenvolvidos para cuidar de trabalhadores e seus familiares. Pierry explica que três dos 11 aspectos que são considerados em avaliações de qualidade têm relação direta com a gestão de pessoas.
– Uma empresa que não faça reflexões acerca dos benefícios oferecidos ao trabalhador terá dificuldades de desempenho – observa Pierry.
Perdas e ganhos da empresa
Para o economista Sean Nicholson, um programa para melhorar a qualidade de vida dos funcionários pode trazer ganhos a uma empresa, como redução nos gastos médicos (para os funcionários e seus familiares), redução nas faltas, melhoria na produtividade e redução na rotatividade, devido às percepções dos funcionários do pacote total de remuneração associado ao emprego. O mais fácil de calcular é o primeiro, mas ele é apenas a ponta do iceberg, na visão do pesquisador.
Para facilitar a compreensão, Nicholson dá exemplos: uma companhia de energia elétrica deve distribuir a mesma quantidade de energia todos os dias, independentemente de quantos funcionários estejam trabalhando. Se um operário falta, outro será sobrecarregado, provavelmente gerando um custo de horas extras para a empresa. Mas em áreas com maior nível de formação, a conta é mais complexa. Um comissário não pode substituir um piloto, por exemplo. Nesse caso, o prejuízo da ausência do piloto para a companhia aérea é de todo um voo que teve de ser cancelado ou remarcado.
– Esse quadro revela um problema mascarado no dia a dia: o funcionário mais operacional falta o trabalho, mas o mais especializado vai até o seu limite – comenta Andréa Müssnich, diretora de marketing da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Estado.
Caminho é focar na prevenção
Garantir assistência médica por meio de planos corporativos já é uma prática comum. Nos Estados Unidos, 160 milhões de americanos não idosos – quase metade da população – têm seu seguro-saúde fornecido pela empresa. No Brasil, conforme a Associação Nacional de Saúde Suplementar (ANS), dos 47,6 milhões de planos de saúde no país, 29,7 milhões são custeados por empresas. Além disso, a legislação trabalhista prevê proteção laboral ao trabalhador com relação a riscos de saúde. Isso, somado ao fato de que custos médicos e indenizações formam a menor fatia dos gastos, leva para um outro caminho de gestão da saúde nas empresas, com foco na prevenção de fatores de risco.
Um grupo de corridas organizado pela empresa era o empurrão que a analista de auditoria médica Raquel Cardoso (foto), 36 anos, precisava para perder peso sem ser vítima do “efeito sanfona” das dietas. Estimulada por colegas de trabalho, começou a participar do grupo em outubro do ano passado, correndo três vezes por semana. Já perdeu 11 quilos e percebe o impacto no dia a dia.
– Tenho mais autoestima e mais disposição para o trabalho e outras áreas – descreve.
Para Raquel, o benefício da corrida reflete um valor simbólico para a empresa onde trabalha há nove anos: mostra que está preocupada com o funcionário e aumenta a adesão às atividades.
A assistente administrativa Helenice Tomaz, 29 anos, está há 50 dias sem fumar, depois que entrou em programa antitabagismo oferecido pela empresa. Funcionária há cinco anos, depois que participou do grupo, diz que dorme melhor, está menos cansada e ansiosa e melhorou da asma.
Sinais de alerta
A psicóloga e presidente do Isma-BR, Ana Maria Rossi, aponta os principais sinais de alerta do corpo:
> Sono e cansaço excessivo
> Abuso de álcool
> Aumento no consumo de café ou cigarro
> Perda ou ganho excessivo de peso
ESTRESSE EM NÚMEROS
> No Brasil, 70% da população economicamente ativa sofre de estresse
> Desses, 30% sofrem com o nível mais devastador da doença, conhecido como burnout
QUEIXAS MAIS COMUNS
86% dos executivos brasileiros relatam dores musculares, incluindo dores de cabeça
81% relatam ansiedade 49% disseram ficar mais agressivos
18% já tiveram alguma explosão de raiva
Fonte: Isma-BR
MOTIVOS PARA INVESTIR EM SAÚDE
> Redução nos gastos médicos
> Redução nas faltas
> Melhoria na produtividade
> Redução na rotatividade