Pesquisa mundial revela a pandemia do sedentarismo
A falta de exercícios é responsável pelo mesmo número de mortes vinculadas ao ato de fumar. É essa a conclusão de um estudo que envolveu 122 países e que será publicado hoje pela revista britânica The Lancet. O sedentarismo, de acordo com a pesquisa, é responsável por uma em cada 10 mortes em todo o mundo, índice comparável ao impacto do tabagismo.
Para o coordenador do estudo global, que envolveu pesquisadores de 16 países, o gaúcho Pedro Hallal, do Centro de Estudos Epidemiológicos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), há uma pandemia de inatividade física. O estudo publicado em forma de artigos científicos revela que a inatividade física se tornou um contribuinte de peso para as principais causas de morte no mundo. O grupo de sedentários é formado por 1,5 bilhão de pessoas, o que representa 31,1% dos adultos. Entre 13 e 15 anos, o número é assustador: 80% não atingem a recomendação de uma hora por dia de atividade física.
No Brasil, 49,2% das pessoas são inativas, o segundo pior resultado entre os países do continente americano. Perdemos apenas para a Argentina, que tem 68,3% de sedentários. O estudo, porém, traz perspectivas positivas, inclusive vindas da tecnologia. Já há resultados que comprovam que a telefonia móvel pode servir como incentivo para que um número maior de pessoas se torne fisicamente ativo, como no caso de Denilson Montenegro, retratado na página ao lado. Para Hallal, pela prevalência do sedentarismo em proporções globais e pelo impacto sobre a saúde, a inatividade física tem consequências imensas nas áreas de saúde, economia, ambiente e social.
– Não existe um cálculo do quanto deixaria de ser gasto se as pessoas praticassem o recomendado pela Organização Mundial de Saúde, mas, pelo que traz de benefícios, com certeza haveria uma grande economia.
Quem é inativo…
Em média, no mundo, 31,1% dos adultos e 80% dos adolescentes estão em risco elevado de doenças por deixar de fazer quantidades recomendadas de atividade física
No Brasil, 49,2% estão no patamar de inatividade física, o segundo pior índice das Américas, atrás apenas da Argentina (68,3%), e entre os piores índices do mundo.
As mulheres (51,6%) são, em geral, mais sedentárias do que os homens (47,2%)
Qual é o impacto…
Teoricamente, se o número de inativos diminuísse 10% ou 25%, entre 533 mil e 1,3 milhão de mortes poderiam ser potencialmente evitadas no mundo a cada ano. A expectativa de vida da população mundial aumentaria em torno de 0,68 ano se os inativos fossem eliminados.
A inatividade física é…
Não utilizar pelo menos 150 minutos por semana fazendo atividade física moderada (caminhada, por exemplo, em passo apressado, durante 30 minutos, cinco dias por semana), ou exercícios mais vigorosos por 20 minutos, três vezes por semana.
Responsável por 5,3 milhões das 57 milhões de mortes ocorridas mundialmente em 2008, e por cerca de 1 em cada 10 mortes em todo o mundo, comparável ao impacto do tabagismo
Apontada como causadora de entre 6% e 10% das quatro principais doenças não transmissíveis (doenças coronárias, diabetes tipo 2, e câncer de mama e câncer de cólon).
Corrida tecnológica
Estimulado por aplicativos baixados no telefone celular, há dois anos o gestor de tecnologia da informação Denilson Montenegro, 42 anos, cumpre todas as etapas do treinamento físico. As etapas vencidas são narradas pela voz eletrônica: “faltam três quilômetros”, “você está indo bem”. Quando o percurso chega ao fim, o sistema envia uma publicação para o Facebook e, cada vez que um amigo curte, aplausos são disparados pelo fone de ouvido.
– Fica a sensação de que a galera está na torcida. Isso ajuda a aumentar o compromisso de manter o rendimento – comenta.
A tela do computador também é transformada por Montenegro em um estímulo para quem está do outro lado. A dentista Luciane Pandolfo, 43 anos, estava parada há cinco anos. De tanto ver as publicações de Montenegro nas redes sociais, Luciane deu um basta no sedentarismo e seguiu os passos do amigo, recebendo aplausos de outros esportistas e também de sedentários – que um dia, espera-se, vão aderir a exercícios, ajudando a reduzir o quadro de inativos em todo o mundo, diminuindo as mortes e aumentando a expectativa e a qualidade de vida da população.
História e prestígio
Fundada em 1823, a revista The Lancet, da editora Elsevier, é uma das mais importantes publicações científicas da área médica. De acordo com o Journal Citation Reports, sistema de avaliação da Thomson Reuters utilizado mundialmente para classificar o impacto científico de publicações, a Lancet, com fator de impacto igual a 38,28, é a 7ª revista científica em geral com maior fator de impacto internacionalmente e a 2ª mais importante na categoria medicina geral.
Fonte: Zero Hora