Ao iniciar um estudo com mais de 90 crianças de Porto Alegre, a nefrologista pediátrica Ana Maria Teixeira Verçoza, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), esperava confirmar a hipótese de que a aterosclerose (espessamento das artérias que pode levar a problemas cardíacos graves) estava intimamente ligado ao histórico familiar da criança. Se algum parente tem a doença, a probabilidade de a criança ter o problema é maior, pensava a médica.
O resultado a surpreendeu. O histórico da doença na família influencia pouco a aterosclerose infantil. Então, o que provocaria o espessamento das artérias? Simples: os hábitos alimentares. Segundo os dados compilados, quase metade das crianças obesas ou com sobrepeso que participaram do trabalho apresenta características iniciais do problema. Índice que assusta e mostra que o comportamento nos primeiros anos de vida tem reflexos importantes na idade adulta.
– Quando a aterosclerose começa a aparecer já na infância, o risco de essa pessoa se tornar um adulto com aterosclerose avançada é muito grande. Isso aumenta a probabilidade de sofrer de problemas cardíacos – explica Ana Maria.
A boa notícia: o problema é reversível. Alimentação balanceada e exercícios regulares costumam ser suficientes. A partir daí, o organismo trabalha sozinho. Quando o peso volta aos níveis ideais até os 13 ou 14 anos, a aterosclerose tende a reverter, enquanto na idade adulta o processo é mais complicado. As artérias voltam ao normal rapidamente, e a criança terá menor risco de complicações cardíacas no futuro.
– Com hábitos saudáveis, a pressão arterial cai, e há menos risco de sobrecarga do coração – afirma a cardiologista pediátrica Lucia Pellanda.
A empresária Fabiana Roland, mãe de Gustavo, cinco anos, prepara mudanças para a vida do caçula após a mesa farta das festas de fim de ano. Fã de doces e salgadinhos, ele terá de ir a uma nutricionista para perder peso.
– Ele sempre foi fofinho, mas já estou cortando o refri – adianta.
DANIEL CARDOSO
Futuro saudável |
> Hipertensão: a obesidade pode provocar obstrução das artérias, o que dificulta a passagem do sangue. Em consequência, a pressão sanguínea é aumentada. Isso leva a vários problemas, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). |
> Diabetes: doença até então rara entre crianças que, com o aumento de peso e do acúmulo da gordura abdominal, está se tornando mais comum. Não tem cura e precisa ser controlado por toda a vida. Caso contrário, pode causar vários problemas sérios, como cegueira e amputação de membros. |
> Problemas ortopédicos: com o corpo mais pesado, as articulações, como joelhos e tornozelos, ficam sobrecarregados, o que resulta em lesões que podem se complicar. |
> Colesterol: os níveis elevados são um dos fatores de risco para problemas cardíacos. É importante que a criança mantenha os índices dentro do ideal. Assim, tende a ser um adulto mais saudável. |
Ao livrar-se dos quilos em excesso até os 13 ou 14 anos, a criança é poupada de complicações: |