Companhias fazem parcerias com grupos como o do “Vigilantes do Peso” e outras concedem incentivo financeiro para quem perde de 3 a 5 quilos. Confira análise de especialista
Este é o título da matéria assinada pela jornalista Juliana Coissi, de Ribeirão Preto e publicada na edição de 25 de março da Folha de São Paulo, que constata que empresas privadas, hospitais e prefeituras estão criando programas próprios ou com assessoria para “emagrecer” seus funcionários obesos.
Trata-se de um tema importante, pois os dados do Ministério da Saúde demonstram que o número de brasileiros com peso corporal acima do normal está aumentando ano após ano e várias pesquisas confirmam a importância da obesidade com fator de risco para doenças crônicas e o seu impacto na produtividade dos trabalhadores.
A matéria apresenta alguns cases e depoimentos que eu gostaria de comentar. Inicialmente, fala sobre uma iniciativa da Prefeitura de Franca que criou grupos com servidores acima do peso convidados através de uma revista interna. São realizadas reuniões mensais com apoio de psicólogo, médico e educador físico e os funcionários são convidados a participar de atividades físicas. Houve grande interesse pela participação nos grupos que foram compostos praticamente só por mulheres. De acordo com um depoimento, os próprios colegas de trabalhos são os “ fiscais” de quem tenta emagrecer. Neste caso, apesar de não sabermos quantos homens trabalham na Prefeitura de Franca, os dados epidemiológicos no Brasil revelam que a obesidade é mais prevalente no sexo masculino. Assim, surge o desafio de motivar e incluir os homens neste programa.
Recentes pesquisas demonstram que o suporte entre colegas é um forte componente na mudança de comportamento. Assim, mais do que “ fiscais” , os colegas podem ser motivadores para criar um ambiente favorável para a adoção de estilos de vida saudáveis. Esta é uma prática que deve ser estimulada. No ano passado, o SESI lançou um curso auto-instrucional sobre como abordar o suporte entre colegas como ferramenta de promoção da saúde.
Finalmente, a matéria fala sobre empresas que fazem parceria com grupos como o do “Vigilantes do Peso”, citando a Vale e o Itaú-Unibanco. Cita o case da empresa CPFL Energia que tem uma parceria desde 2007 e apresenta um incentivo financeiro: para quem perde 3 a 5 quilos de peso, a empresa paga 60% do valor. Acima de 5 quilos, o subsídio sobe para 80%. Cita, como personagens um casal de funcionários da empresa que perderam, cada um, sete quilos , mas como recuperaram outros três no fim do ano, voltaram para as reuniões dos Vigilantes do Peso.
A jornalista ouviu o médico endocrinologista Marcio Mancini (HC FMUSP) que afirmou “incentivo para perder peso é válido, mas nem todos deixam de emagrecer por má vontade. Isso de premiação para quem perdeu peso parece coisa de reality show. As pessoas não perdem peso na mesma velocidade. Fatores como o ambiente, a genética e metabolismo afetam o resultado dos regimes para emagrecimento. O especialista afirmou que, sobre as reuniões em grupo, o melhor modelo é o de encontros com orientação de um especialista, como médico, nutricionista e educador físico e não de orientador ser apenas de alguém que já foi obeso.
Sobre este tema, estudos demonstraram que abordagens comportamentais como os do “Vigilantes do Peso” são efetivos e válidos, apesar de pouco sustentáveis no médio e longo prazo. Uma revisão publicada na edição janeiro e fevereiro de 2012 do American Journal Health Promotion demonstrou que o uso de incentivos extrínsecos (como descontos na adesão de programas) podem ser efetivos e propiciar o aparecimento de fatores de motivação intrínseca para a mudança de comportamento. Talvez uma abordagem interessante seria a adoção de bônus para a participação nos programas, não vinculando com a perda de peso. Recente metanálise demonstrou que, mesmo quando não se constata perda de peso significativa, há melhora em indicadores como o nível de colesterol no sangue ou maior controle da pressão arterial.
Com relação a realização de atividades com especialistas, há o desafio de se capacitar profissionais que consigam realizar aconselhamento e orientação de maneira ampla, sobre mudança de comportamento, estabelecimento de metas, programação de atividade física, um verdadeiro “coaching” em bem-estar e não fragmentar a ação entre especialistas (médico, nutricionista, psicólogo, educador físico, etc).
Fonte: Saúde Web